terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Dica de cinema: Histórias Cruzadas


Vidas Cruzadas (The Help, 2011) está concorrendo a 4 Oscars (não percam, dia 26/02/12!): Melhor Filme, Melhor Atriz (Viola Davis) e tem 2 indicações para Melhor Atriz Coadjuvante (Jessica Chastain e Octavia Spencer). 


Começo dos anos 1960. Skeeter (Emma Stone) acaba de se graduar em Jornalismo na faculdade e volta para sua cidade natal, Jackson, no estado do Mississipi. Lá todos esperam que ela se case logo, como dita os costumes sociais da época, mas ao invés disso ela consegue um emprego no jornal local escrevendo uma coluna sobre dicas domésticas. Aspirando ser uma escritora séria, Skeeter tem a ideia de mexer em um tema bem caro para a sociedade sulista: como o negro é tratado pelo branco, já que até então existe a segregação racial no Sul dos EUA.


Skeeter pede a empregada Aibileen (a excelente Viola Davis) que a acompanhe nesse projeto, mesmo sabendo que estão infringindo as leis estaduais. A ideia do livro que Skeeter quer escrever é que as empregadas contem a história de seu trabalho (por isso o nome "the help", algo como "as serviçais"), sob seus pontos de vista. E assim surgem relatos que se confundem com o próprio passado escravista: elas recebem um salário miserável (95 centavos por hora), fazem todo o trabalho da casa (inclusive cuidar das crianças), seus patrões são considerados seus donos e por aí vai.


Quem também rouba a cena é a empregada Minny (Octavia Spencer): ela se vinga da patroa por esta ter lhe negado usar o banheiro social, de dentro de casa. É essa mulher, Hilly, a presidente de uma liga social feminina da cidade que entrega um projeto ao governador sugerindo a construção de banheiros para as empregadas fora de casa, o que revolta Skeeter. Depois de muitos recusarem seus serviços, Minny vai trabalhar para Celia (a da foto acima), uma mulher discriminada por ter origem pobre (o que os sulistas chaman de "white trash", algo como "lixo branco").


Não devemos esquecer que os anos 60 foi uma década bem movimentada para os americanos: uma das lutas que ganhou repercussão mundial foi a dos direitos civis dos afro-americanos apoiada por grandes líderes como Martin Luther King Jr, Malcom X, W.E.B Du Bois e Rosa Sparks, além do próprio presidente John Kennedy. Através de atos pacíficos, como passeatas e comícios, eles defendiam o direito de votar, de estarem em condições de igualdade com o branco, enfim, de serem cidadãos plenos, sem discriminação racial. Portanto, a história que Skeeter quer publicar cai como uma luva para a época em questão.


O filme não é só drama, pelo contrário; tem muitos momentos cômicos e irônicos rsss Ainda assim, no meio de tanto sofrimento, as empregadas conseguem transparecer força e otimismo por ter esperança no futuro.

Não há como negar que o filme mostra várias nuances do modo de viver sulista. Por exemplo, o sotaque inglês deles é bem característico - é um falar arrastado, que come as sílabas no final rsss! Os casarões no meio das plantações de milho, no estilo casa grande e senzala (como descreve nosso Gilberto Freyre por aqui!); e gente, a comida sulista, meu Deusssss...Delicious!


 Para quem ainda não estudou a Literatura Sulista Norte- Americana (mas ainda tem tempo rsss!), sugiro a leitura dos seguintes livros (ou assistir a adaptação deles pro cinema, ainda que não seja a mesma coisa ;)): E o vento levou, de Margaret Mitchell (para conhecer a visão dos perdedores da Guerra Civil Americana - os sulistas); Luz em Agosto, de William Faulkner (um dos grandes escritores sulistas que existe e que "corta também na própria carne" para mostrar a realidade dos negros no Sul); A cor púrpura, de Alice Walker (o negro sendo discriminado e desrespeitado pelo próprio negro, além da denúncia sobre as condições de vida das mulheres negras); o conto Desirée's baby, de Kate Chopin (do início do séc.XX), para entendermos a diferença do racismo americano para o racismo brasileiro: ser negro não está na cor da pele e sim, no sangue.


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