quarta-feira, 13 de junho de 2012

Oscar Wilde e o príncipe feliz


Oscar Wilde (1854-1900) era irlandês de nascença, mas foi o cara que deu um upgrade descomunal na dramaturgia de Língua Inglesa no fim do século XIX. Além de ter escrito as melhores peças no período de 1887 a 1896, Wilde foi um dos fundadores do Decadentismo, movimento este que discutia a importância da Estética nas artes em geral, mais especificamente na Literatura e também visualizava, de forma bem crítica, as mudanças pelas quais a sociedade estava passando ao entrar em um novo século.


Criou-se a partir de então a figura do dandy (uma espécie de "avô" do nosso metrossexual!): um homem que cultivava a beleza, o luxo, a liberdade de amar e a cultura no pensar...Dono de várias frases de efeito, o estilo de Wilde é ferino e irônico, que gosta de desmascarar a hipocrisia social; nesse contexto, o que ele mais criticava era a aristocracia inglesa e sua ridícula hierarquia de classes:

"Devem-se escolher os amigos pela beleza, os conhecidos pelo caráter e os inimigos pela inteligência."


Como falei lá em cima, adoro as peças de Oscar Wilde, mas nesse post senti vontade de comentar sobre um conto lindo chamado The happy prince - O príncipe feliz. O título é bem irônico, já que o tal príncipe é uma estátua folheada a ouro e incrustada de pedras preciosas que embeleza uma cidade e chama a atenção de todos os seus habitantes. Lá do alto, o príncipe observa tudo - todos os males que ele não sabia que existiam enquanto estava vivo. Com o tempo foi se decepcionando com a natureza humana e percebeu que gostaria de ajudar os necessitados, mas não sabia como...


Um belo dia pousa nos ombros da estátua uma andorinha que se perdeu de seu bando e não conseguiu migrar para fugir do inverno. O príncipe lhe pede ajuda: que arranque cada pedra preciosa e cada folha de ouro que lhe cobre e distribua aos pobres, pois ele não aguenta mais ver tanto sofrimento. Obediente, a andorinha executa o que lhe foi pedido. Quando finaliza as tarefas percebe que o príncipe está sem suas riquezas - nu e feio; mesmo sentindo o inverno bater às portas, a ave não tem coragem de abandonar o amigo. Este lhe pede um último favor para confortar sua alma: "Estiveste aqui muito tempo; mas é nos lábios que deves beijar-me, porque te amo muito." A andorinha o beija e cai morta a seus pés. Após notarem como a estátua ficou feia, os dirigentes da cidade mandam derrubá-la: "Como já não é belo, já não é útil". Resolvem fundi-la em um forno, onde apenas o coração de metal não consegue derreter, intrigando a todos...

Wilde revela a verdadeira face do ser humano: mesquinho e interessado nas aparências, que em detrimento do que é bom para si prejudica os outros e esquece que a verdadeira beleza está na alma, na essência de cada um. A amizade tardia que conheceu com a andorinha valeu por toda a sua vida pois lhe permitiu enxergar o motivo real de sua existência, mesmo no final dela: ajudar o próximo. Se você se interessou em ler integralmente o conto, clica AQUI. Não vai se arrepender :) E se quiser conhecer um pouco mais da vida desse grande dramaturgo, e se não tiver pré conceitos, assista ao filme Wilde (1997), com o excelente Stephen Fry interpretando o eterno dandy: