sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Shakespeare apaixonado


Shakespeare apaixonado (Shakespeare in love, 1998) é um daqueles filmes que sempre valem a pena ser revisitados...Trabalhando a obra A MEGERA DOMADA com meus alunos este mês de setembro, fechamos o debate com este filme, cuja história é a dificuldade de Shakespeare, um dos grandes dramaturgos da literatura inglesa e mundial, em se inspirar; ele busca desesperadamente sua grande musa, mas nenhuma corresponde à altura da obra que ele quer escrever.


Em um baile ele se depara com a nobre Viola e logo se apaixona por ela, sem saber que a moça já está prometida em casamento a Lord Wessex, com  o consentimento da rainha Elizabeth I. Viola ama o teatro e quando sabe que Shakespeare está procurando atores para sua nova peça, "Romeu e Julieta", ela se traveste de homem para conseguir o papel. E consegue. Ressalte-se que nessa época era proibida a participação de mulheres no teatro sob pena de prisão e fechamento do local.


O romance proibido entre os dois floresce, assim como a própria peça...E a pergunta que debati com meus alunos surgiu do próprio questionamento do filme feito pela rainha Elizabeth I: é possível que uma peça de teatro nos mostre a verdadeira natureza do amor? Em outras palavras, o que se quer saber é o seguinte: uma obra de arte consegue imitar com tal perfeição os sentimentos humanos?


Apesar dos extensos debates divergentes a respeito da vida e produção literária de Shakespeare, o que importa é que as obras estão aí, para serem estudadas. E o que o torna tão genial e inovador para a arte renascentista de então e para nós até hoje é sua preocupação em retratar o mais fielmente possível a complexa natureza do homem; suas vaidades, fraquezas e fracassos são a matéria prima das grandes tragédias como Hamlet, Rei Lear, Macbeth e Othello, para citar apenas algumas. Mas para finalizar esse post, que com certeza será o primeiro de muitos sobre Shakespeare pois a inspiração deste autor é eterna, destaco o soneto que está no filme - o Soneto 18 (detalhe: ele escreveu 154 sonetos sobre os mais variados temas):

Shall I compare thee to a Summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And Summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And oft' is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd:
But thy eternal Summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou owest;
Nor shall Death brag thou wanderest in his shade
When in eternal lines to time thou growest:
So long as men can breathe, or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.
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Devo comparar-te a um dia de verão?
tu és mais agradável e mais serena:
os ventos ásperos balançam os ternos botões de maio,
mas o verão não dura para sempre.
Ás vezes o sol brilha mais forte
e muitas vezes seu aspecto dourado é ofuscado,
e toda beleza ás vezes diminui
por acaso ou por causa das mudanças naturais da vida:
mas teu eterno verão não deverá se esvair
nem perder aquela beleza que tu possuis;
nem a Morte poderá se vangloriar de que rondaste sua sombra
pois na verdade crescestes no tempo em versos eternos:
Enquanto os homens respirarem ou os olhos puderem ver,
assim estes versos viverão para sempre, e isto te dará vida.
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Aqui o poeta imortaliza a beleza e a virtude da amada...o uso da metáfora do "verão" significando a juventude e a beleza nos diz que estas condições humanas são temporárias mas uma vez ressaltadas em versos, tornam-se eternas... é assim mesmo, como diria Hipócrates : Vita brevis, ars longa (a vida é curta, a arte é longa)...